Cuidado com a Escola Tradicionalista, a seita esotérica que usa o antimarxismo para promover o sincretismo religioso e o culto à personalidade de seus líderes

Julio Severo

Quando os cristãos ouvem falar de tradicionalistas, pensam em termos de cristãos guardando suas tradições ou de costumes culturais de guardar tradições. Muito poucas pessoas sabem que existe uma seita espiritualista ou esotérica dedicada a ambições políticas também engajada no tradicionalismo. Essa seita se chama Escola Tradicionalista.

Membros da Escola Tradicionalista, inclusive Steve Bannon e Olavo de Carvalho, em Nova Iorque em 2019

Um grupo de tradicionalistas se reuniu em Nova Iorque em 2019 e um estudioso judeu procurou entender a influência dessa seita.

Benjamin Teitelbaum, o estudioso judeu, fez uma pergunta a esses tradicionalistas, inclusive Steve Bannon e Olavo de Carvalho, um imigrante brasileiro autoexilado nos EUA.

De acordo com a Universidade do Colorado Boulder:

“Você é um tradicionalista?” ele perguntou, referindo-se a uma seita espiritualista pouco conhecida, enraizada em noções de que o tempo é cíclico, a “idade das trevas” está sobre nós, e os homens arianos habitam o topo de uma hierarquia cósmica antiga.

Essa pergunta simples deu início a uma odisséia de um ano em que Teitelbaum, um etnomusicologista que se tornou especialista em questões de extrema direita, gravou mais de 20 horas de entrevistas com Bannon e viajou pelo mundo para conhecer seus contemporâneos tradicionalistas.

O novo livro resultante, “War For Eternity: Inside Bannon’s Far-Right Circle of Global Power Brokers” (Guerra pela Eternidade: De Dentro do Círculo Ultra-Direitista de Negociadores Mundiais de Poder), lançado nesta semana, revela uma bizarra ideologia ultraconservadora compartilhada por assessores de presidentes populistas no Brasil, Rússia e Hungria — e o surpreendente poder político que eles podem estar empunhando.

O interesse de Teitelbaum na Escola Tradicionalista começou depois que ele leu reportagens da imprensa em 2016, indicando que Bannon, então estrategista-chefe do presidente Donald Trump, estava lendo as obras do escritor tradicionalista Julius Evola. Desde então, Trump expulsou Bannon da Casa Branca por oportunismo e por vazar informações confidenciais para a imprensa.

De acordo com a Universidade do Colorado Boulder:

Teitelbaum define o tradicionalismo como “uma bizarra escola filosófica subversiva secreta com um número pequeno de adeptos ecléticos.” Ela se baseia em verdades filosóficas que fazem uso de ideias de muitas religiões, desde o hinduísmo e o zoroastrismo até as religiões pagãs pré-cristãs da Europa.

Teitelbaum disse que diferentes escolas de tradicionalistas compartilham crenças diferentes, mas muitas concordam com um dos principais temas: o “modernismo” — especialmente o marxismo — deve desaparecer para que o avanço espiritual da humanidade ocorra. Esse avanço espiritual é uma mistura que envolve muitas religiões, principalmente o catolicismo e o islamismo.

De acordo com a Universidade do Colorado Boulder:

Por meio de entrevistas exclusivas em reuniões esotéricas e outras reuniões secretas com pensadores de extrema direita desde a região rural da Virgínia [onde Olavo de Carvalho mora] até Budapeste, Teitelbaum argumenta que essa visão obscura do mundo está tendo um impacto notável na política mundial hoje.

Ele observa que Aleksandr Dugin, que é fortemente influenciado por obras tradicionalistas, tem quem o ouça no Kremlin e Olavo de Carvalho, outro pensador tradicionalista, atua como conselheiro do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Embora seja inegável que Dugin e Carvalho tenham as mesmas raízes esotéricas e ambos sejam membros da Escola Tradicionalista, não sei se a avaliação de Teitelbaum de Dugin ter no governo russo a mesma influência que Carvalho tem no governo brasileiro está correta.

Os tradicionalistas são narcisistas e megalomaníacos e usam qualquer evento para promover o culto à sua personalidade. Em 2019, a CPAC realizou no Brasil seu primeiro evento e Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, usou o evento para promover o culto à personalidade de Carvalho. Antes desse evento, o presidente brasileiro concedeu a Carvalho a maior condecoração do governo brasileiro.

Carvalho, que é o conselheiro especial de Bolsonaro, mantém a ele e seus filhos sob seu feitiço esotérico.

Embora Dugin seja o Carvalho russo, não há sinal de que ele mantenha o governo russo sob o mesmo feitiço. Pelo menos, posso falar da minha experiência. Em 2014, participei no Kremlin da maior conferência conservadora da Rússia. Eu estava com judeus, católicos e evangélicos americanos, especialmente do Congresso Mundial das Famílias. Dugin não era palestrante e nem sequer compareceu ao evento. Nenhum palestrante russo mencionou o nome dele.

Não há notícias de que Dugin já tenha recebido a maior condecoração do governo russo. Certamente, as ideias e o movimento de Dugin, inspirados no ocultista islâmico René Guénon, são uma ameaça política e espiritual, mas ele não foi capaz até agora de alcançar a influência enorme que Carvalho alcançou no governo Bolsonaro.

Se o presidente russo Vladimir Putin tratar Dugin da mesma maneira que Bolsonaro vem tratando Carvalho, mais cedo ou mais tarde ele verá a Rússia afundada nas mesmas confusões que o Brasil está enfrentando.

Se Dugin tivesse o mesmo feitiço que Carvalho tem no Brasil, a maior conferência conservadora na Rússia, com a minha presença, teria o mesmo culto à personalidade de Dugin que aconteceu na CAPC, a maior conferência conservadora do Brasil, a qual Eduardo Bolsonaro usou para promover o culto da personalidade de Carvalho. Aliás, Bolsonaro financiou esse evento privado com mais de 1.200.000 reais diretamente dos bolsos dos brasileiros que pagam impostos, e essa ação deveria ter sido condenada como antiética, porque conservadores reais não sacrificam os trabalhadores que pagam impostos para financiar seus eventos privados. Somente socialistas fazem essa exploração de impostos.

Minha opinião é que a Rússia, a maior nação cristã ortodoxa do mundo, será vítima de Dugin ou outro membro da Escola Tradicionalista, porque os cristãos ortodoxos não são muito diferentes dos católicos. O Brasil, a maior nação católica do mundo, já está sendo vítima da Escola Tradicionalista por meio de Carvalho.

Os EUA, que ainda mantêm uma maioria de evangélicos em sua população cristã, escaparam com sucesso das armadilhas da Escola Tradicionalista e de seu apelo antimarxista. Trump expulsou Bannon da Casa Branca e se cercou de evangélicos.

Se Bolsonaro, da mesma forma, expulsar seus conselheiros tradicionalistas, principalmente Carvalho, e se cercar de evangélicos, haverá esperança para o Brasil. Putin e os cristãos ortodoxos não estão espiritualmente preparados para evitar na Rússia a mesma experiência ruim da Escola Tradicionalista que o Brasil católico adotou e que a América protestante rejeitou.

A tragédia no Brasil é que Bolsonaro foi eleito especialmente por evangélicos, mas depois da eleição ele optou por entupir seu governo de tradicionalistas ligados a Carvalho. Ou seja, os evangélicos foram explorados politicamente por Bolsonaro, que agora usa o governo brasileiro para promover o tradicionalismo e seus adeptos. Eles não tinham poder suficiente para se eleger. Então eles exploraram os evangélicos com um discurso conservador, mas agora eles promovem uma agenda maior envolvendo questões que não são familiares para muitas pessoas.

De acordo com a Universidade do Colorado Boulder:

“Alguns desses protagonistas [Bannon, Dugin, Carvalho] que estão tentando moldar o futuro da nossa sociedade estão pensando em termos que são muito estranhos para a maioria das pessoas educadas, atentas e engajadas,” disse ele. “É hora de começarmos a prestar atenção.”

Teitelbaum está certo. A maioria das pessoas, mesmo as “pessoas mais educadas, atentas e engajadas,” são incapazes de entender a seita esotérica estranha e misteriosa da Escola Tradicionalista. Os líderes americanos da CAPC que compareceram à CAPC Brasil financiada com impostos não conseguiram entender que eles foram usados para promover um membro da Escola Tradicionalista e que praticamente todos os palestrantes brasileiros na CAPC Brasil não estavam representando o movimento conservador brasileiro. Eles estavam diretamente conectados a Carvalho. Então, o tradicionalismo tem no Brasil, como em nenhuma outra nação, uma supremacia, mesmo contra conservadores reais.

Nenhuma nação foi tão enganada e vitimada pelos tradicionalistas quanto o Brasil — talvez apenas a Itália sob o ditador fascista Benito Mussolini, cujo conselheiro e guru foi o filósofo direitista Julius Evola, o discípulo mais proeminente de Guénon e o membro mais proeminente da Escola Tradicionalista. Evola escreveu vários livros contra o marxismo.

Bannon, Dugin e Carvalho foram fortemente influenciados por Guénon e suas ideias esotéricas.

Apesar de Carvalho se gabar de que ele vinha formando um exército de intelectuais antimarxistas desde a década de 1980, por meio de investigação Teitelbaum descobriu que Carvalho estava envolvido em uma tariqa islâmica ocultista nos EUA na década de 1980. Essa tariqa estava envolvido em escândalos sexuais. Teitelbaum apenas não investigou como Carvalho enganou o serviço imigratório dos EUA para obter um visto como correspondente de um pequeno jornal brasileiro que não tinha condições de sustentar um correspondente internacional.

Concordo com Teitelbaum: é hora de começarmos a prestar atenção à seita espiritualista da Escola Tradicionalista e seus membros que seduzem e sequestram movimentos conservadores e influenciam presidentes — desde Mussolini até Bolsonaro.

Com informações da Universidade do Colorado Boulder.

Versão em inglês deste artigo: Beware the Traditionalist School, the Esoteric Sect that Uses Anti-Marxism to Promote Religious Syncretism and the Personality Cult of Its Leaders

Fonte: www.juliosevero.com

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